segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

As crónicas do DN

Anos a fio procurei eu as deliciosas crónicas que a minha tia, atenciosamente, guardava para a sobrinha que ora vos escreve. “Não vá dar em iletrada. Ao menos alguma coisa lê”.
Religiosamente, sentava-me na grande mesa da biblioteca, junto dos reformados e, estoicamente, segurava as gargalhadas, resguardando-me dos olhares acusadores a que já tinha sido exposta em diversas ocasiões. Aquelas crónicas eram um perigo.

Sempre me convenci de que eram assinadas por um tal de “Arsénico & Caramelo” mas, tanto a minha tia como o meu irmão, me asseguraram que isso era um cartoon que saía também no suplemento de um jornal daquele tempo ... infelizmente, as crónicas nem vê-las.

O que escrevo, se escrevo (umas letras a seguir às outras, com espaços pelo meio e sinais que vou distribuindo mais ou menos criteriosamente), e como o faço, devo-o a essas crónicas que bebi até a fonte secar. As minhas palavras fotográficas vêm daí (neste caso até não são tão fotográficas assim mas fica o link na mesma).

Como a net é uma rede de cerejas que puxa muitas conversas, fui parar a um blog onde um nome me acordou algo na memória. Onésimo Teotónio de Almeida (...) Crónicas no DN. Claro!

Não é Arsénico & Caramelo mas é Onésimo Teotónio, o que vai dar quase no mesmo.

Agora só falta ir ao DN e rezar para que tenham lá uma senhora como a minha tia, que me fotocopie todas as cronicas do Sr. Almeida, que religiosamente guardou.

Nota: Entretanto, quando vi o título “Que nome é esse, ó Nézimo? – E outros advérbios de dúvida”, alguma coisa, mesmo nas "traseiras d'alembradura", me dizia que eu já tinha lido esse livro e que, também nessa altura, tinha reconhecido o autor das tão procuradas crónicas (só faltava saber qual o jornal). Um auxiliar de memória, o meu marido, lembrou-me que o livro nunca foi meu e que me foi emprestado pelo nosso excelentíssimo anfitrião em Moçambique (daí o esquecimento), o JPT.

9 comentários:

  1. Li esta muito divertida entrada do seu blogue. Sinto-me na obrigação moral de lhe vir dizer que não vale a pena perder tempo a fotocopiar as crónicas no DN (entre 1992 e 1994). Elas foram todas reunidas no meu livro "Rio Atlântico" (Lisboa: Salamandra, 1997), embora esteja esgotado. Ainda é possível encontrar um ou outro exemplar numa livraria com arrecadação ou cave de arrumar caixotes com velharias. E há sempre a Biblioteca Nacional. Fico deveras com vontade de lhe arranjar um exemplar, mas acho que o melhor será não a desiludir. As crónicas desse livro são um bocado mais sisudas do que as desse outro que terá lido ("Que Nome é esse, ó Nézimo?) e dos outros dois que publiquei a seguir - "Viagens na Minha Era" e "Livro-me do Desassossego" (Temas e Debates, 2001 e 2007) - para não falar já de "Aventuras de um Nabogador & outras estórias-em-sanduíche" (Bertrand, 2008).
    Já agora, desse "Que Nome..." houve duas edições na Salamandra e uma ainda aparece em saldos, porque a editora faliu (espero que não por causa dos meus livros!). E há outra edição do Círculo de Leitores.
    Fiquei com mais uma estória sobre o meu nome na minha colecção.
    Boa tarde para Lisboa.

    onésimo
    Providence, Rhode Island

    ResponderEliminar
  2. Pois eu, o tal "auxiliar de memória", sabia da demanda do Arsénio & Caramelo, mas não desta confusão de nomes.

    A sabê-lo, bem que teria feito render em tempo útil, junto da minha cara-metade, a glória de o ter tido como anfitrião naquele seminário da Brown organizado pela Cristiana.
    Em vez disso, regressei a moer-lhe o juízo com queixas das dores de dentes que por lá não me largaram!...
    Há homens que são um caso perdido.

    Bem... mas sempre tenho agora a oportunidade de lhe mandar um forte abraço e o desejo de que tudo esteja bem consigo.

    ResponderEliminar
  3. Mas o mundo está mesmo assim pequenino, volta-se a curva e é tudo família ou gente do bairro?
    Aproveito para retribuir o forte abraço. E até à próxima esquina, que espero não aconteça à porta de um dentista.

    ResponderEliminar
  4. Poderia dizer que estou sem palavras, como fiquei quando a caixa de correio me informou que tinha um comentário (e mais ainda quando confirmei de quem era).
    Mas não digo. Nunca fico sem palavra, mesmo quando a devia dar aos outros. Além de que não me poderia escusar a escrever o que teima em não me passar pela cabeça.

    Porque acho que todos gostamos de ver o fruto do que plantámos nos outros, atrevo-me (sem correr o risco de causar estragos na sua prateleira atestada) a deixar aqui uns links. Relatos de uma desterrada grata pela sua atenção.

    http://martaim.blogspot.com/2008/03/efeito-santo-antnio.html

    http://martaim.blogspot.com/2008/04/e-perguntam-vocs-hilariante-porqu.html

    http://martaim.blogspot.com/2008/05/mau-feitio-gentico.html

    http://martaim.blogspot.com/2008/07/brushing-das-pestanas.html

    ResponderEliminar
  5. Enquanto eu embalava os acepipes, o mundo não parou e chego aqui, já jantaram. Deixei na mesma, para um pasto tardio.

    ResponderEliminar
  6. Dei um salto rápido às entradas que me indicou, que acrescentam uns traços ao auto-retrato, o humor de rajada sendo um deles.
    Lerei depois com mais calma. Estou de saída amanhã para as Correntes d'Escritas na Póvoa.

    ResponderEliminar
  7. Um saltinho à Póvoa?

    Resistindo à tentação de lhe indicar mais duas entradas que têm tudo a ver, apenas lhe deixo votos de boa viagem.

    Seja bem vindo.

    ResponderEliminar
  8. Aqui fica a espreitadela da tia. Fico reconfortada pelas boas memórias que vocês têm da biblioteca. E ela está associada a todos vocês, enfiados nos sofás, que já não estão lá, ou sentados à mesa grande. Não me lembro destes recortes que te fiz. Mas fiz muitas escolhas, enquanto tinha que ler todos os jornais, que ao fim de 40 anos... já me escapam.
    Vou descobrir o livro para ti!

    ResponderEliminar
  9. Descobri um exemplar na Bilioteca Municipal do Palácio das Galveias.

    ResponderEliminar